sábado, 20 de dezembro de 2008

Estudo epidemiológico publicado nos Anais Brasileiros de Dermatologia

Trecho extraído de um estudo epidemiológico realizado no Ceará e publicado nos Anais Brasileiros de Dermatologia.








Forma Tuberculóide



Forma Dimorfa




Perfil clínico-epidemiológico dos pacientes diagnosticados com hanseníase em um centro de referência na região nordeste do Brasil

Clinical and epidemiological profile of patients diagnosed with leprosy in a reference center in the notheast of Brazil

An. Bras. Dermatol. v.80 supl.3 Rio de Janeiro nov./dez. 2005
doi: 10.1590/S0365-05962005001000004
Cícero Cláudio Dias Gomes; Maria Araci de Andrade Pontes; Heitor de Sá Gonçalves; Gerson Oliveira Penna


A hanseníase possui largo espectro de apresentações clínicas, cujo diagnóstico baseia-se principalmente na presença de lesões de pele, perda de sensibilidade e espessamento neural. As variadas formas clínicas de apresentação são determinadas por diferentes níveis de resposta imune celular ao M. leprae.1 O quadro neurológico acomete os nervos periféricos, atingindo desde as terminações na derme até os troncos nervosos, sendo clinicamente uma neuropatia mista, que compromete fibras nervosas sensitivas, motoras e autonômicas. A sensibilidade é alterada em suas modalidades térmica, dolorosa e táctil.
Para fins de tratamento, a Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs uma classificação que divide os pacientes em paucibacilares (PB), com 1-5 lesões e baciloscopia negativa, e multibacilares (MB), com mais de cinco lesões e com ou sem baciloscopia positiva.
A hanseníase pode ainda, durante seu curso ou até mesmo após a cura, apresentar fenômenos agudos denominados reações. Há dois tipos de reação: as do tipo 1 ocorrem em pacientes com algum grau de imunidade celular, como os tuberculóides e dimorfos (resposta do tipo Th1), e as reações do tipo 2, mediadas por anticorpos, ocorrem nos virchowianos e também em alguns dimorfos (resposta do tipo Th2). A manifestação clínica mais freqüente da reação tipo 2 é o eritema nodoso hansênico (ENH).
Essas reações são causa freqüente de incapacidades, podendo ser acompanhadas de dor intensa, hipersensibilidade do nervo, edema, déficit motor e sensitivo. Podem ocorrer ainda neurites silenciosas, em que não se verificam os achados de dor ou hipersensibilidade do nervo, mas há alterações de sensibilidade e de força motora, e, muitas vezes, só podem ser detectadas por exames específicos, o que torna de suma importância as avaliações periódicas, mesmo na ausência de qualquer queixa do paciente.

O tratamento da doença é feito por meio dos esquemas de poliquimioterapia preconizados pela OMS: para pacientes paucibacilares, composto de seis doses, com 100mg diárias de dapsona e dose supervisionada de 600mg mensais de rifampicina; para os multibacilares, dose diária de 100mg de dapsona e 50mg de clofazimina, e dose mensal supervisionada de 600mg de rifampicina e 300mg de clofazimina, no total de 12 doses.

As características epidemiológicas da hanseníase têm sido objeto de numerosos estudos nas últimas três décadas, visando à compreensão dos fatores que contribuem para a manutenção da endemia e o estabelecimento de novas estratégias no controle da doença como problema de saúde pública.
Conclusão
Com base nos resultados obtidos, foram observados: a presença de elevado percentual (7,7%) de casos detectados em menores de 15 anos; baixo percentual (5,8%) de pacientes diagnosticados na forma indeterminada; elevado percentual (21,7%) de casos com incapacidade ao diagnóstico. Esses indicadores apontam para uma elevada circulação do bacilo na comunidade e a grande dificuldade que a rede básica apresenta de se organizar de forma a diagnosticar precocemente os casos dessa complexa doença.
Chegou-se a 2005 vendo a endemia hansênica apresentar-se no limiar de sua eliminação como problema de saúde pública em nível mundial, considerando indicador principal a prevalência pontual. Entretanto, a utilização da prevalência pontual, enquanto principal indicador de eliminação, tem gerado intensa discussão epidemiológica.
Nas duas últimas décadas, houve redução drástica da prevalência da hanseníase pela implementação da PQT de curta duração em larga escala, ocasionando queda da prevalência global e aproximando-se da meta de eliminação. Entretanto, os coeficientes de detecção, que são indicadores de transmissibilidade da infecção, permanecem elevados e não foram alterados após quase 10 anos de alta cobertura com PQT.
Dados internacionais alertam para o fato de que, em algumas áreas onde a hanseníase tem sido considerada eliminada, tem sido observado aumento dos casos nas formas polares e do grau de incapacidade. Assim, é essencial que as atividades de controle e pesquisa da hanseníase sejam sustentadas, mesmo em países ou áreas que tenham oficialmente alcançado a meta de eliminação.
A complexidade de enfrentamento de uma doença como a hanseníase leva a refletir e redirecionar sua eliminação para um controle efetivo, sedimentado sobre a ética e a medicina baseada em evidências.

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